
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, nesta sexta-feira (16), o primeiro foco de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) em uma granja comercial no Brasil, localizada no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. O surto, identificado em uma propriedade com 17.025 aves, resultou na morte ou abate sanitário de quase todas as galinhas, com 7.389 abatidas preventivamente para conter a disseminação do vírus. A detecção, a primeira em um sistema de avicultura comercial no país, levou o Mapa a declarar estado de emergência zoossanitária por 60 dias, intensificando medidas de vigilância e restrições ao comércio internacional de aves e derivados.
A gripe aviária, causada por cepas do vírus Influenza, circula entre aves silvestres no Brasil desde maio de 2023, com mais de 100 casos registrados, principalmente em aves migratórias. Até então, o país mantinha o status de livre da doença em criações comerciais, o que preservava sua posição como maior exportador mundial de frango. O surto em Montenegro, no entanto, marca uma mudança significativa, sendo o primeiro caso em uma granja de postura, destinada à produção de ovos. A cepa H5N1, conhecida por sua alta letalidade em aves, foi confirmada por análises do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Campinas (SP).
O Mapa informou que a granja afetada foi interditada, e medidas de contenção foram imediatamente implementadas, incluindo a criação de uma zona de exclusão de 10 quilômetros ao redor do foco, com monitoramento intensivo de outras propriedades avícolas. Equipes do Serviço Veterinário Oficial estão rastreando possíveis contatos com aves silvestres, apontadas como a provável fonte de introdução do vírus. A pasta enfatizou que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou ovos, buscando tranquilizar a população e os mercados consumidores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia o risco de transmissão da H5N1 entre humanos como baixo, uma vez que o vírus não adquiriu capacidade de transmissão sustentada. No entanto, a manipulação de aves infectadas sem proteção adequada pode levar a infecções raras. Um relatório da OMS, publicado em 9 de maio, registrou quatro casos humanos e três mortes por gripe aviária globalmente, mas nenhum caso humano foi reportado no Brasil. O Ministério da Saúde anunciou o reforço da vigilância epidemiológica em trabalhadores avícolas e a distribuição de equipamentos de proteção individual nas regiões afetadas.
A resposta sanitária incluiu a notificação do caso à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), conforme exigem os protocolos internacionais. O Mapa também suspendeu temporariamente a certificação de exportações de aves e ovos do Rio Grande do Sul, o que pode impactar até 20% das exportações brasileiras de frango, segundo estimativas da consultoria Safras & Mercado. Países como China, Japão e União Europeia, que impõem restrições automáticas em casos de gripe aviária, já sinalizaram possíveis embargos, embora negociações estejam em curso para limitar as medidas à região afetada.
O Brasil, responsável por 35% das exportações globais de frango, enfrenta agora o desafio de mitigar os impactos econômicos do surto. O Rio Grande do Sul, segundo maior produtor avícola do país, responde por cerca de 14% da produção nacional de frango e ovos. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) expressou preocupação com a possibilidade de perdas comerciais, mas destacou que o país possui protocolos robustos para conter a disseminação. “O foco é isolado, e o setor está colaborando com as autoridades para proteger o mercado interno e externo”, afirmou Ricardo Santin, presidente da ABPA.
O surto ocorre em um momento delicado, após a crise nos Estados Unidos, onde a gripe aviária dizimou cerca de 170 milhões de aves desde 2022, servindo como alerta para o Brasil. Especialistas apontam que a proximidade de granjas comerciais com habitats de aves silvestres, como no Vale do Taquari, onde fica Montenegro, aumenta o risco de novos focos. O Mapa anunciou investimentos de R$ 50 milhões em biossegurança, incluindo barreiras físicas e treinamento para produtores.
A confirmação do surto gerou reações no cenário político. Parlamentares da bancada ruralista, como o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), cobraram maior agilidade do governo federal na liberação de recursos para indenizar produtores e reforçar a vigilância. “O agronegócio não pode pagar o preço da demora do Estado em agir”, declarou Moreira em plenário. Enquanto isso, movimentos ambientalistas, como o Greenpeace Brasil, apontaram a necessidade de revisar o modelo intensivo de criação avícola, que facilita a propagação de doenças zoonóticas.
Nas redes sociais, posts no X refletem a preocupação pública com a segurança alimentar e os impactos econômicos. Usuários como @mellziland destacaram a importância de desenvolver vacinas para aves e humanos, enquanto outros expressaram receio de aumento nos preços de ovos e carne de frango. O governo federal, por meio do perfil @govbr, reforçou que está monitorando a situação para proteger a biodiversidade e a produção de alimentos, mas evitou comentar sobre possíveis impactos no mercado interno.
O surto de gripe aviária em Montenegro coloca o Brasil diante de um teste crítico para sua reputação como líder no mercado global de aves. A capacidade de conter a disseminação do vírus e evitar novos focos será determinante para minimizar perdas econômicas e manter a confiança dos parceiros comerciais. O Mapa planeja intensificar a campanha de conscientização junto a pequenos e grandes produtores, além de acelerar pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina avícola, já em curso no Instituto Butantan.
Enquanto as autoridades sanitárias trabalham para isolar o foco, a sociedade brasileira acompanha com atenção os desdobramentos. A garantia de que o consumo de carne e ovos permanece seguro é um alento, mas a possibilidade de restrições internacionais e o risco de novos surtos mantêm o setor em alerta. A experiência de países como os Estados Unidos, onde a doença gerou prejuízos bilionários, serve como um lembrete da importância de uma resposta rápida e coordenada. O Brasil, agora, enfrenta o desafio de proteger sua avicultura sem comprometer a saúde pública ou sua posição no mercado global.