Por Redação O Tabuleiro Político
Brasília, 2 de maio de 2025

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, anunciou sua demissão nesta sexta-feira (2), em decisão formalizada após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. A saída ocorre em um contexto de crescente pressão política e social, desencadeada pela revelação de um esquema fraudulento de descontos indevidos em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com prejuízos estimados em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A crise, que expôs fragilidades na gestão da Previdência, tornou insustentável a permanência de Lupi, figura central do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e aliado histórico do governo petista.
Contexto da Crise
A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 23 de abril, revelou um esquema sofisticado de cobranças irregulares por associações e sindicatos, que descontavam valores de aposentadorias e pensões sem autorização dos beneficiários. Documentos do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), presidido por Lupi, indicam que o ministro foi alertado sobre o aumento de descontos não autorizados já em junho de 2023. Contudo, medidas efetivas só foram tomadas em março de 2024, quase dez meses depois, o que levantou questionamentos sobre a diligência da pasta.
A operação resultou no afastamento e posterior demissão de Alessandro Stefanutto, presidente do INSS indicado por Lupi, e na execução de seis mandados de prisão temporária e 211 de busca e apreensão, além do sequestro de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão. A magnitude do escândalo, que vitimou cerca de 4,1 milhões de aposentados, intensificou as críticas à gestão de Lupi, especialmente por parte da oposição, que classificou sua permanência no cargo como “insustentável”.
A Decisão de Lupi
Em sua carta de demissão, publicada em redes sociais, Lupi afirmou: “Entrego, na tarde desta sexta-feira, a função de Ministro da Previdência Social ao Presidente Lula, a quem agradeço pela confiança e pela oportunidade. Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso.” O ex-ministro destacou o apoio às apurações e sua intenção de acompanhar o caso, defendendo a devolução integral dos recursos desviados. Contudo, a narrativa de não envolvimento direto não foi suficiente para aplacar o desgaste político.
A renúncia foi aconselhada por aliados do PDT, que sugeriram a Lupi reforçar o discurso de que as fraudes tiveram origem no governo anterior, de Jair Bolsonaro, enquanto as investigações avançaram sob a gestão atual. A estratégia, porém, não evitou que a crise ganhasse contornos de uma das mais graves do terceiro mandato de Lula, alimentando críticas sobre a capacidade do governo de proteger os direitos dos aposentados.
Repercussões Políticas
A saída de Lupi coloca o PDT em uma posição delicada. O partido, que comanda 17 deputados e três senadores, ameaçou abandonar a base aliada caso o ministro fosse demitido, argumentando que a gestão de Lula estaria “fritando” seu presidente nacional. Parlamentares pedetistas, como o líder na Câmara, Mário Heringer, defenderam que a demissão de Lupi equivaleria a “demitir o partido”, sinalizando resistência em indicar um substituto. A nomeação de Wolney Queiroz, ex-deputado do PDT e até então secretário-executivo da pasta, para assumir o ministério, busca aplacar tensões, mas não garante a continuidade do apoio da sigla.
No campo da oposição, a renúncia foi recebida como uma vitória parcial. O deputado Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, afirmou: “A demissão de Lupi é tardia, mas necessária. A omissão diante de um crime bilionário contra os aposentados é inaceitável.” Parlamentares oposicionistas já coletam assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes, o que pode manter o tema em evidência e ampliar o desgaste do governo.
Desafios à Frente
A nomeação de Wolney Queiroz, embora mantenha a pasta sob influência do PDT, impõe ao novo ministro a árdua tarefa de restaurar a credibilidade do sistema previdenciário. Entre os desafios estão a indenização das vítimas, a modernização dos processos de fiscalização e a revisão das regras que permitem descontos em benefícios. O governo prometeu restituir os valores desviados, mas ainda não apresentou um plano claro para tal.
A crise no INSS expõe não apenas falhas administrativas, mas também a persistência de práticas que atravessam diferentes gestões. Iniciado em 2019, o esquema de fraudes se perpetuou sob a gestão de Lupi, reforçando a percepção de que a máquina pública permanece vulnerável a interesses escusos. Para o governo Lula, o episódio representa um teste de sua capacidade de responder com transparência e rigor às demandas da sociedade, especialmente em um momento de alta sensibilidade política.
Considerações Finais
A demissão de Carlos Lupi, embora inevitável diante da pressão pública e política, não encerra a crise na Previdência Social. O escândalo do INSS, com seu impacto devastador sobre milhões de brasileiros, exige respostas que vão além de trocas ministeriais. A sociedade espera ações concretas para punir os responsáveis, ressarcir as vítimas e fortalecer a governança do sistema previdenciário. Enquanto isso, o governo Lula enfrenta o desafio de conter os danos à sua imagem e manter a coesão de sua base aliada, em um cenário que promete novos desdobramentos.