
O ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, Gilson Machado Neto, foi preso preventivamente na manhã desta sexta-feira, 13 de junho de 2025, em Recife (PE), pela Polícia Federal (PF). A prisão, determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, está relacionada à suspeita de que Machado tentou obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, com o objetivo de viabilizar sua fuga do Brasil. A ação, confirmada por fontes da PF à CNN Brasil e ao blog da jornalista Andréia Sadi, do g1, também envolve buscas e apreensões e a quebra de sigilos telefônico e telemático do ex-ministro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta indícios de obstrução de justiça e favorecimento pessoal, no contexto da ação penal que investiga uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A prisão intensifica a crise política envolvendo aliados de Bolsonaro, com a oposição denunciando “perseguição judicial” e o PT celebrando o avanço das investigações.
A Prisão: Operação da PF e Decisão do STF
A detenção de Gilson Machado ocorreu na capital pernambucana, onde o ex-ministro, filiado ao Partido Liberal (PL), reside e mantém sua base política. Segundo a PF, Machado foi levado à Superintendência Regional da corporação em Recife para prestar esclarecimentos. A operação, autorizada por Alexandre de Moraes, incluiu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-ministro, com a apreensão de celulares e documentos. A PGR, em manifestação enviada ao STF na terça-feira, 10 de junho, solicitou a abertura de inquérito contra Machado, apontando que, em 12 de maio de 2025, ele teria contatado o Consulado de Portugal em Recife para tentar emitir um passaporte português em nome de Mauro Cid, réu na ação penal sobre a suposta trama golpista.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, classificou a conduta como uma tentativa de “obstruir a investigação de organização criminosa” e “favorecer pessoalmente” Cid, que possui cidadania portuguesa, mas negou ter solicitado o passaporte. A PF também investiga se Machado buscou outros consulados ou a Embaixada de Portugal em Brasília com o mesmo propósito. A prisão de Mauro Cid, também realizada hoje, reforça a gravidade do caso, com a PF suspeitando de uma articulação coordenada para impedir o avanço das investigações no STF.
O Contexto: Machado, Cid e a Trama Golpista
Gilson Machado, conhecido como “Gilson Sanfoneiro” por sua atuação como músico e líder da banda Forró da Brucelose, foi ministro do Turismo entre dezembro de 2020 e março de 2022 e presidente da Embratur em dois períodos durante o governo Bolsonaro. Aliado próximo do ex-presidente, Machado acompanhava Bolsonaro em eventos e lives, onde chegou a tocar “Ave Maria” em homenagem às vítimas da Covid-19. Em 2024, foi candidato a prefeito de Recife pelo PL, mas não venceu, e em 2022, concorreu ao Senado por Pernambuco, também sem sucesso.
A investigação que culminou em sua prisão está ligada à ação penal 2.688/DF, que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. Mauro Cid, réu no mesmo processo, é acusado de integrar o núcleo operacional do plano, que incluía a elaboração de minutas golpistas e articulações com militares. A tentativa de emissão de um passaporte português, segundo a PGR, visava permitir que Cid deixasse o Brasil, atrapalhando o julgamento no STF. A PF também apura uma campanha de arrecadação promovida por Machado no Instagram, em maio de 2025, para custear despesas de Bolsonaro, incluindo apoio ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os EUA.
Reação do Ex-Ministro: Negação das Acusações
Em nota enviada à CNN na terça-feira, 10 de junho, Gilson Machado negou “veementemente” ter ido ao Consulado de Portugal ou articulado a emissão de um passaporte para Mauro Cid. Ele afirmou que, em maio, apenas solicitou uma agenda para seu pai, Carlos Eduardo Machado Guimarães, renovar seu passaporte português. “Tomo conhecimento das publicações pela imprensa e reitero que nunca mantive qualquer conduta ilícita”, declarou. A assessoria de Machado informou à CBN Recife que deve divulgar um posicionamento oficial nas próximas horas, mas ainda não se manifestou após a prisão.
Mauro Cid, por meio de seus advogados, também negou ter requisitado um passaporte português, afirmando que sua cidadania portuguesa foi solicitada em janeiro de 2023, com a emissão de uma carteira de identidade já entregue ao STF. A defesa de Cid reforçou que ele “não tinha conhecimento” da suposta iniciativa de Machado.
Polarização Política: Oposição e Governo Reagem
A prisão de Gilson Machado gerou reações imediatas. A oposição, liderada pelo PL, classificou a ação como mais um episódio de “perseguição judicial” contra bolsonaristas. O deputado André Fernandes (PL-CE) publicou no X: “O STF de Moraes prende Gilson Machado sem provas concretas, só com base em suposições. É a ditadura judicial contra a direita!” O movimento Advogados Pelo Direito Brasil (@movadvdireitabr) também defendeu Machado, destacando sua negativa e questionando a legalidade da prisão preventiva.
Por outro lado, parlamentares do PT e aliados do governo Lula celebraram a prisão. O deputado Rogério Correia (PT-MG) escreveu no X: “Gilson Machado, ex-ministro de Bolsonaro, preso por tentar ajudar Mauro Cid a fugir. O bando de fujões está caindo!” A hashtag #GilsonMachadoPreso ganhou tração entre apoiadores do governo, com usuários como @lazarorosa25 reforçando a narrativa de que a prisão é um avanço contra a “trama golpista”.
Impacto Político: Crise no Bolsonarismo
A prisão de Machado, somada à de Mauro Cid, representa um novo golpe para o bolsonarismo, que enfrenta sucessivas derrotas judiciais. A ação penal sobre a tentativa de golpe, que inclui Jair Bolsonaro e outros 29 réus, avança no STF, com Moraes adotando medidas rigorosas contra os investigados. A detenção de um ex-ministro e a suspeita de articulação para obstruir a justiça reforçam a narrativa do PT de que o governo Bolsonaro esteve envolvido em práticas antidemocráticas.
Para o PL, a prisão de Machado, que era cotado como liderança regional em Pernambuco, enfraquece a oposição em um momento de reorganização para as eleições de 2026. Analistas do Metrópoles apontam que o caso pode afastar aliados moderados do partido, temerosos de represálias judiciais. Enquanto isso, o governo Lula capitaliza o episódio para consolidar a imagem de combate à impunidade, embora a oposição alerte para o risco de uma “caça às bruxas” contra conservadores.