
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou, nesta segunda-feira (14 de julho de 2025), que renunciará ao seu mandato na Câmara dos Deputados e permanecerá nos Estados Unidos, onde está desde março, em licença parlamentar. Em entrevista à Coluna do Estadão, o parlamentar, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que “lamenta” a decisão, mas teme ser preso pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, caso retorne ao Brasil. A declaração ocorre em um momento de alta tensão política, com o presidente dos EUA, Donald Trump, intensificando críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendendo Bolsonaro contra o que chama de “perseguição política”. A renúncia de Eduardo, que era cotado para presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, marca uma nova escalada na polarização brasileira e levanta questões sobre o impacto de sua atuação política a partir do exterior.
Motivos da Renúncia e Medo de Prisão
Eduardo Bolsonaro, de 41 anos, justificou sua decisão alegando que o Brasil não vive uma “normalidade democrática”. “Se eu voltar agora, tenho certeza de que Alexandre de Moraes mandará me prender”, afirmou à Coluna do Estadão. Ele citou os inquéritos no STF que investigam seu pai por tentativa de golpe de Estado, disseminação de fake news e apropriação de joias sauditas, nos quais também é alvo. Eduardo está nos EUA desde 18 de março de 2025, após obter uma licença parlamentar, inicialmente temporária, que agora culmina na renúncia ao mandato. “Estou me sacrificando pela nação. O trabalho que faço aqui é mais importante do que o que eu poderia fazer no Brasil”, declarou, destacando sua articulação com parlamentares republicanos e a família Trump para pressionar por punições ao Brasil, como as tarifas de 50% anunciadas por Trump contra produtos brasileiros.
A decisão foi lamentada pelo Partido Liberal (PL), que, em nota, expressou “tristeza” pela saída de Eduardo, visto como uma liderança estratégica para a oposição. “É uma perda para o Congresso, mas respeitamos sua escolha em um contexto de perseguição judicial”, afirmou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. A renúncia ocorre após Eduardo participar de eventos conservadores nos EUA, como o baile hispânico da posse de Trump em janeiro, onde posou com Donald Trump Jr. e criticou o Brasil, dizendo que o país “está virando uma piada” devido às ações do STF.
Contexto Político e Relações com Trump
A possível renúncia de Eduardo está diretamente ligada às tensões entre o governo Lula e Trump, que, na última sexta-feira (11 de julho), recusou dialogar com o presidente brasileiro e reiterou sua defesa a Jair Bolsonaro. Trump, que ameaçou impor tarifas de 50% sobre importações brasileiras, vinculou as sanções à condução do processo contra Bolsonaro, acusado de articular um golpe após as eleições de 2022. Eduardo tem desempenhado um papel ativo nessa narrativa, articulando com deputados republicanos em Washington e jantando com Trump em Mar-a-Lago em março de 2024, onde organizou uma videochamada entre o ex-presidente americano e seu pai.
A atuação de Eduardo nos EUA, incluindo encontros com parlamentares e apoio de figuras como Chris Smith, da Comissão de Relações Exteriores, tem gerado críticas de aliados de Lula. O deputado Rogério Correia (PT-MG) pediu ao STF medidas contra Eduardo, acusando-o de “influenciar investigações por meio de pressão internacional”. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), acusou Eduardo de incentivar as tarifas de Trump, chamando-o de “traidor da pátria” por priorizar interesses estrangeiros. A primeira-dama Janja também usou o termo “vira-latas” para criticar a postura de Eduardo e de aliados de Bolsonaro, reforçando o discurso de que a oposição busca subserviência aos EUA.
Repercussão e Impactos no Brasil
A declaração de Eduardo Bolsonaro, amplamente debatida no X, gerou reações polarizadas. Usuários como @Pobre_d_Direita celebraram a decisão, chamando-o de “covarde” por abandonar o mandato, enquanto @jovemesquerdabr afirmou que a saída marca o “fim da imunidade” de Eduardo, prevendo a prisão de Jair Bolsonaro. Outros, como @PaladinRood, destacaram a frase de Eduardo sobre “sacrifício pela nação”, mas a interpretaram com ironia.
No Brasil, a renúncia enfraquece a oposição no Congresso, onde Eduardo era uma figura central na articulação da direita. Sua saída pode beneficiar o governo Lula, que enfrenta resistência à agenda fiscal, como a taxação de grandes fortunas, mas também intensifica a narrativa de perseguição política, usada pelo PL para mobilizar sua base rumo às eleições de 2026. O cientista político André Cesar, da Hold Assessoria, alerta que a permanência de Eduardo nos EUA pode transformar o ex-deputado em um “mártir político” para a direita, especialmente com o apoio de Trump, que amplia a visibilidade global de Bolsonaro.
Implicações para as Relações Brasil-EUA
A fala de Eduardo ocorre em um momento crítico para as relações Brasil-EUA, agravadas pelas ameaças de tarifas de Trump e pela crise do BRICS, onde Lula defendeu a desdolarização. O Brasil, que exportou US$ 42,3 bilhões para os EUA em 2024, enfrenta perdas potenciais de US$ 10 a 15 bilhões com as tarifas, afetando setores como café, aço e aviação (Embraer). Lula prometeu retaliações com base na Lei de Reciprocidade Econômica, mas busca evitar uma guerra comercial, priorizando o diálogo com aliados do BRICS, como China e Índia, para diversificar mercados.
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