
Em uma votação expressiva que expôs o desgaste do governo Lula com sua base aliada, o Congresso Nacional impôs uma derrota contundente ao presidente petista ao derrubar o decreto que elevava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, que visava aumentar a arrecadação para cobrir cortes orçamentários, foi revogada pela Câmara dos Deputados por 383 votos a favor contra 98, seguida da aprovação simbólica no Senado.
Traição da base governista e desgaste político
O episódio revelou fissuras profundas na base aliada do PT. Surpreendentemente, 216 dos 383 votos favoráveis à derrubada do aumento do IOF vieram de partidos que compõem o governo Lula, evidenciando uma “traição” interna. A escolha do deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO), conhecido por sua postura bolsonarista, como relator do projeto na Câmara foi interpretada como uma provocação ao Planalto e acelerou o processo de votação, que ocorreu em tempo recorde.
Consequências para o governo Lula
Com a revogação do aumento do IOF, o governo federal perde uma fonte estimada em R$ 10 bilhões para este ano, obrigando o Ministério da Fazenda a buscar outras alternativas para cumprir a meta fiscal, possivelmente ampliando os bloqueios de gastos no Orçamento de 2025. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), lamentou a decisão e afirmou que o governo ainda fará as contas para definir novos cortes, enquanto o relator no Senado, Izalci Lucas (PL-DF), criticou a tentativa de aumentar impostos em vez de reduzir despesas.
O que o aumento do IOF representava
O governo Lula justificou o aumento do IOF como uma medida necessária para equilibrar as finanças públicas e evitar cortes mais profundos em programas sociais destinados aos mais vulneráveis. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a defender a elevação do imposto como uma forma justa de tributar os mais ricos e combater a evasão fiscal. Contudo, a rejeição ampla no Congresso demonstra a insatisfação com a política fiscal do governo e a resistência a medidas que penalizam operações financeiras, mesmo que direcionadas a setores mais abastados.
Impacto político e futuro da gestão Lula
Esta derrota no Congresso representa um duro golpe para o governo Lula, que viu sua autoridade e capacidade de articulação política serem questionadas diante da própria base. A incapacidade de sustentar um aumento de imposto via decreto presidencial indica dificuldades para implementar sua agenda econômica e fiscal, aumentando a pressão para que o Planalto reveja suas estratégias e negocie com o Legislativo medidas menos impopulares.
Reações e Impactos
A oposição celebrou, com van Hattem chamando o aumento de “ilegal” no X. O PL e o Novo reforçaram críticas ao “governo gastador”. O PT lamentou, com Lindbergh Farias defendendo a “justiça tributária”. O dólar caiu 0,8%, para R$ 5,45, mas analistas alertam para cortes de gastos ou novos impostos. Haddad avalia recorrer ao STF, com poucas chances de sucesso.