
Em um ato extremo de vingança, uma comerciante local de Kenskoff, uma região montanhosa a cerca de 20 quilômetros de Porto Príncipe, capital do Haiti, matou 40 supostos membros da facção criminosa Viv Ansanm ao oferecer pastéis envenenados com um pesticida agrícola conhecido como “óleo de lagarta” (emokeadi). A mulher, cuja identidade não foi revelada por motivos de segurança, confessou o crime às autoridades locais e solicitou proteção policial, temendo represálias de outros membros do grupo. O caso, que chocou o país e ganhou repercussão internacional, expõe a escalada da violência e a fragilidade do Estado em conter a ação de gangues no Haiti.
Kenskoff, situada no departamento Oeste do Haiti, é uma área rural marcada pela presença de facções criminosas que extorquem comerciantes e moradores, impondo controle sobre atividades econômicas e sociais. Segundo relatos da imprensa local, como o jornal De Último Minuto, a comerciante, que operava uma pequena venda de alimentos, vinha sofrendo ameaças e extorsões reiteradas da Viv Ansanm, uma das gangues mais temidas da região. Cansada do assédio e da violência, a mulher planejou o envenenamento como uma forma de retaliar e proteger sua comunidade.
De acordo com as autoridades, a comerciante preparou pastéis e empadas, alimentos populares na região, misturando o recheio com óleo de lagarta, um pesticida altamente tóxico usado para eliminar pragas agrícolas. Os alimentos foram distribuídos aos membros da facção, que os consumiram sem suspeitar. Horas após a ingestão, os 40 homens apresentaram sintomas graves, incluindo convulsões e falência orgânica, resultando em suas mortes. A ação foi executada com precisão, sem registro de vítimas adicionais entre civis.
A mulher se apresentou voluntariamente à delegacia de Kenskoff no dia 6 de maio, confessando o crime e detalhando sua motivação. Segundo o portal Folha do Estado, ela alegou ter agido sozinha, movida pelo desespero após meses de coerção e ameaças à sua família. A comerciante solicitou proteção policial, temendo retaliações de outros membros da Viv Ansanm, que controla partes significativas do território haitiano. A Polícia Nacional do Haiti confirmou a prisão preventiva da suspeita, mas não divulgou detalhes sobre o andamento do processo, citando a necessidade de proteger a identidade da mulher.
O caso foi notificado à Organização das Nações Unidas (ONU), que mantém uma missão de estabilização no Haiti (BINUH). A ONU expressou preocupação com o episódio, classificando-o como um reflexo da “crise humanitária e de segurança” que assola o país. A organização pediu uma investigação transparente e reforçou a necessidade de fortalecer o Estado de Direito para combater a impunidade e a violência de gangues.
O crime gerou reações polarizadas no Haiti e no exterior. Nas redes sociais, como em postagens no X, parte do público elogiou a comerciante, tratando-a como uma “heroína” que enfrentou a opressão das gangues. Um usuário, identificado como @eva_pocharski, questionou se a mulher “merecia uma medalha” por sua ação. Outros, no entanto, condenaram o ato como uma forma de justiça com as próprias mãos, alertando para o risco de escalada da violência. Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch, criticaram a situação, apontando que o desespero da comerciante reflete o colapso das instituições haitianas em proteger os cidadãos.
No cenário político, o caso intensificou o debate sobre a crise de segurança no Haiti. O governo interino, liderado pelo primeiro-ministro Garry Conille, enfrenta críticas por sua incapacidade de conter a expansão das facções criminosas, que controlam cerca de 80% de Porto Príncipe, segundo relatórios da ONU. Parlamentares haitianos cobraram medidas urgentes, incluindo o fortalecimento da Polícia Nacional e a cooperação internacional para desmantelar as gangues. O senador Jean Charles Moïse, uma figura influente, declarou que “o povo está cansado de viver sob o jugo de criminosos, mas ações como essa mostram que o Estado falhou em sua missão básica”.
O episódio de Kenskoff expõe a gravidade da crise de segurança no Haiti, onde gangues como a Viv Ansanm exploram a ausência de governança para impor terror. A ação da comerciante, embora motivada por vingança, levanta questões éticas e jurídicas sobre a justiça popular em contextos de fragilidade estatal. Especialistas consultados pelo The Guardian apontam que o uso de pesticidas em alimentos representa um risco adicional à saúde pública, destacando a necessidade de regulamentação mais rígida sobre substâncias tóxicas.
No Brasil, onde a notícia ganhou destaque em portais como BNews e A Tarde, o caso foi comparado a episódios de violência urbana, com analistas destacando as semelhanças entre a impunidade de gangues no Haiti e os desafios enfrentados em periferias brasileiras. A história também gerou memes e debates nas redes sociais, com usuários como @ThayzzySmith comparando o caso a “um filme de terror” pela audácia da comerciante.
O futuro da mulher permanece incerto. Embora sua ação tenha eliminado uma parte significativa da facção local, a Viv Ansanm já prometeu retaliar, segundo fontes locais. O governo haitiano enfrenta o desafio de protegê-la enquanto busca restabelecer a ordem em Kenskoff. Para a comunidade internacional, o caso reforça a urgência de intervenções estruturais no Haiti, incluindo apoio econômico e reforço das forças de segurança, para evitar que a população recorra a medidas extremas.
O envenenamento em massa, embora eficaz contra os criminosos, deixa um alerta: sem um Estado forte e presente, a justiça popular pode se tornar uma resposta recorrente, com consequências imprevisíveis para a sociedade haitiana. Enquanto a investigação avança, Kenskoff permanece sob tensão, e a comerciante, agora sob custódia, tornou-se um símbolo ambíguo de resistência e desespero.