
Na manhã desta terça-feira (22/07/2025), a Justiça do Rio de Janeiro expediu um mandado de prisão preventiva contra o rapper Mauro Davi Nepomuceno, conhecido como Oruam, por sua ligação com o crime organizado, especificamente com a facção Comando Vermelho (CV). A decisão, tomada após operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), reforça as acusações de que o cantor mantém vínculos diretos com atividades criminosas, incluindo associação para o tráfico de drogas, lesão corporal, resistência qualificada, dano ao patrimônio público, desacato e tráfico de entorpecentes. A ação judicial intensifica o cerco contra a influência de facções no Rio, destacando a gravidade das condutas imputadas ao artista.
Operação Policial e Confronto no Joá
A prisão preventiva foi decretada após um confronto na noite de segunda-feira (21/07), na residência de Oruam, localizada no bairro do Joá, Zona Oeste do Rio. Segundo a Polícia Civil, a operação visava cumprir um mandado de busca e apreensão contra um adolescente de 17 anos, identificado como Menor Piu, suspeito de roubo de veículos e apontado como segurança do traficante Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, líder do Comando Vermelho no Complexo da Penha. Durante a ação, Oruam e seus associados teriam reagido com violência, atirando pedras contra os policiais, danificando uma viatura e ferindo um agente. O menor conseguiu fugir, e Oruam, após o tumulto, deslocou-se para o Complexo da Penha, onde gravou vídeos desafiando as autoridades.
O delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do RJ, afirmou: “Oruam é um marginal faccionado, ligado diretamente ao Comando Vermelho. Ele e seus amigos frustraram uma ação legítima do Estado, resistindo à abordagem e danificando patrimônio público.” Curi destacou que o rapper foi indiciado por seis crimes, incluindo associação para o tráfico, reforçando a conexão com a facção liderada por seu pai, Marcinho VP, preso desde 1996 por tráfico e homicídios.
Histórico de Envolvimento com o Crime Organizado
Oruam, filho de Marcinho VP, um dos chefes históricos do Comando Vermelho, já esteve no radar da polícia em outras ocasiões. Em fevereiro de 2025, ele foi preso em flagrante por abrigar Yuri Pereira Gonçalves, um foragido da Justiça condenado por organização criminosa, em sua residência. Na ocasião, a defesa alegou que Oruam desconhecia a condição de foragido de Yuri, mas a reincidência em abrigar suspeitos ligados ao crime organizado reforça as suspeitas sobre sua atuação. Além disso, o rapper foi indiciado em São Paulo por disparo de arma de fogo em um condomínio de luxo em Igaratá, colocando em risco a segurança de moradores.
A ostentação de Oruam nas redes sociais, onde exibe carros de luxo como um Porsche Carrera 911 e um Audi TT RS, além de gastos exorbitantes, como R$ 8 milhões em uma boate na Espanha, levanta questionamentos sobre a origem de seus recursos. A Polícia Civil investiga se esses bens são fruto de atividades ilícitas ligadas ao tráfico de drogas, especialmente considerando sua proximidade com figuras do Comando Vermelho, como o traficante Doca.
Vínculos Familiares e Ideologia Criminosa
A relação de Oruam com o Comando Vermelho vai além de sua ascendência. O rapper já demonstrou publicamente sua lealdade à facção, como em sua apresentação no Lollapalooza 2023, onde usou uma camiseta com a frase “Liberdade para Marcinho VP”. Ele também ostenta uma tatuagem em homenagem a Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes e figura proeminente da facção. Esses gestos, aliados às ações recentes, como o desafio às autoridades no Complexo da Penha, reforçam a narrativa de que Oruam não apenas mantém laços familiares, mas também endossa a ideologia criminosa do CV.
Em vídeo postado nas redes, Oruam provocou os policiais: “Quero ver você vir me pegar aqui dentro do complexo. Não vai me pegar, porque vocês peidam!” Para o delegado Curi, essas declarações são uma “confissão de sua condição de marginal faccionado”, evidenciando sua integração com a estrutura criminosa que domina o Complexo da Penha.
Impacto no Combate ao Crime Organizado
A prisão preventiva de Oruam é um marco na estratégia da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro para desarticular redes de apoio ao Comando Vermelho. A facção, que controla diversas comunidades no estado, depende de figuras públicas e influenciadores para legitimar sua atuação e atrair jovens para o crime. A operação no Joá, embora frustrada pela fuga do menor, demonstra o esforço das autoridades em coibir a proteção de foragidos e o financiamento de atividades ilícitas.
A Justiça do RJ, ao decretar a prisão preventiva, considerou o risco à ordem pública e a gravidade dos crimes imputados, especialmente a associação com uma organização criminosa de alto potencial lesivo. A medida também visa evitar que Oruam continue a obstruir investigações, como fez ao fugir para o Complexo da Penha, uma área de difícil acesso para as forças de segurança.
Próximos Passos da Investigação
A Polícia Civil segue analisando o celular de Oruam, cuja devassa foi autorizada pela Justiça, para identificar possíveis conexões com outros membros do Comando Vermelho. O Ministério Público também pediu o bloqueio de bens do rapper, incluindo contas bancárias e veículos, para apurar a origem de seu patrimônio. Enquanto isso, Oruam permanece foragido, e a operação no Complexo da Penha é considerada de alto risco devido ao poderio armado da facção.
O caso expõe os desafios do Rio de Janeiro no enfrentamento ao crime organizado, que se infiltra em diferentes esferas da sociedade, incluindo o meio artístico. A prisão preventiva de Oruam é um recado claro: ninguém está acima da lei, independentemente de sua notoriedade ou influência.